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Preparemo-nos bem para a hora da Morte e do Juízo,
a fim de escaparmos ao Inferno e ganharmos o Paraíso!


terça-feira, 25 de maio de 2010

Visões de S. João Bosco - III
* O INFERNO - 1


+ JUÍZO FINAL... # Clique, para ver melhor.


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Visão de Dom Bosco


Sobre o INFERNO


= 1.ª Parte =



Na noite de Domingo, 3 de Maio de 1869, festa do Patrocínio de São José, Dom Bosco voltou à narração do que tinha visto nos seus sonhos:


Devo contar-vos outro sonho, que se pode considerar consequência dos que vos narrei na 5.ª e na 6.ª feira à noite, os quais me deixaram tão cansado, que dificilmente podia manter-me de pé.
Chamai-lhes sonhos, ou dai-lhes outro nome; chamai-lhes como quiserdes...



-
Por que não falas?
Voltei-me para o lugar de onde procedia a voz, e vi junto ao meu leito um personagem distinto.
Tendo compreendido o motivo da censura, perguntei-lhe:

- E o que deverei dizer aos nossos jovens?
-
O que viste e te foi dito nos últimos sonhos, e também o que desejavas conhecer, e que te será revelado na próxima noite.
E o Guia desapareceu...

Em todo o dia seguinte, estive a pensar na péssima noite que haveria de passar; e, chegada a hora, não me decidia a ir dormir.
Fiquei a ler, sentado à mesa, até à meia-noite.
Enchia-me de terror a ideia de ter que presenciar ainda outros espectáculos terríveis.
E, finalmente, fiz violência sobre mim mesmo, indo deitar-me.

Para não dormir tão rapidamente, com temor de que a imaginação me levasse aos costumeiros sonhos, apoiei o travesseiro na parede, de modo a ficar quase sentado no leito.
Mas, como estava moído de cansaço, sem que me desse conta, o sono logo apoderou-se de mim.
E eis que, de repente, vejo no quarto, junto à minha cama, o homem da noite anterior, o qual disse-me:

- Levanta-te, e vem comigo!
- Rogo-te, por caridade - respondi-lhe -, deixa-me tranquilo, pois estou cansado demais.
Há vários dias que sou atormentado pela dor de dentes.
Deixa-me descansar. Tive sonhos espantosos; estou extenuado.

Dizia isso também porque a aparição desse homem é sempre sinal de grande agitação, cansaço e terror.
- Levanta-te, que não há tempo a perder!
- respondeu-me.

Então levantei-me e segui-o.
Mas no caminho, perguntei-lhe:
- Aonde me queres levar, desta vez?
-
Vem e verás.

Conduziu-me a um lugar onde se estendia uma imensa planície.
Olhei à volta, mas de lado nenhum conseguia ver os confins dela, de tal forma era extensa.
Era um verdadeiro deserto, não havendo ser vivo algum.
Não se via nem uma árvore, nem um rio, e a vegetação seca e amarelecida mostrava um aspecto desolador.

Não sabia onde me encontrava, nem o que iria fazer.
Durante alguns instantes, perdi de vista o meu Guia, receando ter-me perdido.
Não estavam comigo nem o Padre Rua, nem o Padre Francesia, nem mais ninguém.
Mas eis que descubro de novo o Amigo, que vinha ao meu encontro. Respirei fundo, e perguntei-lhe:

- Aonde estou?
-
Vem comigo e verás.
- Sim, irei contigo.

Caminhava ele na frente, e eu seguia-o em silêncio.
Após uma longa e triste caminhada, pensando que precisaria de atravessar toda a imensa planície, dizia para mim mesmo:
Pobres de meus dentes! Pobre de mim, com as pernas inchadas!

De repente, sem saber como, aparece diante de mim uma estrada. Rompi então o silêncio, perguntando ao meu Guia:
- Aonde vamos agora?
- Por aqui
- respondeu-me.

E enveredámos por aquela estrada.
Era bonita, larga, espaçosa e bem pavimentada.
"Via peccantium complanata lapidibus, et in fine illorum inferi, et tenebrae, et poenae" (Eclesiástico 21, 11) - [O caminho dos pecadores é muito bem pavimentado, mas no final dele estão o Inferno, as trevas e os castigos].


Nos dois lados do caminho, havia duas belíssimas sebes, verdes e cobertas de flores encantadoras.
As rosas, especialmente, brotavam por todas as partes, entres as folhas.
À primeira vista, esse caminho parecia plano e cómodo; e, sem suspeitar de nada, pus-me a caminhar por ele.

Mas, à medida que prosseguia, notei que ia declinando lentamente, e, mesmo não parecendo muito rápida a descida, eu corria a uma tal velocidade que parecia estar sendo levado pelo vento.
Mais ainda, dei-me conta de que avançava quase sem mover os pés, tão rápida era a nossa correria.
Pensando que regressar depois, por uma estrada tão longa, me custaria grande esforço e fadiga, perguntei ao companheiro:

- Como é que faremos, para voltar depois ao Oratório?
-
Não te preocupes
. O Senhor é Omnipotente, e quer que tu vás.
Quem te conduz e te mostra como ir para a frente, saberá também reconduzir-te de volta
- respondeu-me.

O caminho baixava sempre, cada vez mais.
E nós continuávamos o trajecto, por entre flores e rosas, quando, pelo mesmo caminho, vi os meus rapazes do Oratório, juntamente com muitos outros companheiros que eu jamais vira antes, caminhando atrás de mim, e logo encontrei-me no meio deles.

Enquanto observava-os, de repente vejo que ora um, ora outro, caíam, e de seguida eram arrastados por uma força invisível, rumo a uma horrível encosta, que se entrevia à distância, a qual depois vi que ia dar a uma fornalha!
Perguntei ao meu Companheiro:

- O que é que faz cair esses jovens?
"Funes extenderunt in laqueum; iuxta iter scandalum posuerunt" (Salmo 139) - [Estenderam cordas à maneira de rede; junto do caminho puseram tropeços].
- Aproxima-te um pouco mais
- respondeu o Guia.

Aproximei-me, e vi que os meninos passavam entre muitos laços (armadilhas), alguns postos à altura do chão, outros à altura da cabeça, e estes últimos não se viam.
Dessa forma, muitos jovens, enquanto caminhavam sem dar-se conta do perigo, eram colhidos pelos laços.
No momento de serem colhidos, davam um salto, depois caíam no solo com as pernas para o ar, e levantando-se, punham-se em louca corrida para o abismo!

Um era preso pela cabeça, outro pelo pescoço, outro pelas mãos, por um braço, por uma perna ou pela cintura, e imediatamente depois eram arrastados.
Os laços espalhados pela terra, mal se podiam ver; eram parecidos com estopa, lembrando fios de aranha, e não pareciam bastante nocivos.
Vi também que os jovens, colhidos por tais laços, caíam quase todos por terra, sem resistência!

Eu estava espantado, e o Guia perguntou-me:
-
Sabes o que é isso?
- Um pouco de estopa, não mais que isso - respondi.
- Do mesmo modo
, aparentemente pouco nefasto, assim é o respeito humano - advertiu.

Vendo, entretanto, que muitos continuavam a enredar-se nesses laços, perguntei:
- Mas como é que tantos ficam atados por meio desses fios? Quem é que os arrasta desse modo?
-
Aproxima-te mais, olha e verás.

Olhei um pouco, e disse:
- Não estou vendo nada.
- Olha um pouco melhor
- repetiu.


Segurei então um dos laços, puxei-o para mim, e notei que a sua ponta não aparecia; puxei um pouco mais, mas não conseguia ver onde é que terminava aquele fio; e, pelo contrário, notei que também a mim ele arrastava.
Segui então o fio, e cheguei à boca de uma espantosa caverna!
Parei, porque não queria entrar naquela voragem.

Puxei para mim o fio, e percebi que ele cedia um pouquinho, mas era necessário fazer muita força.
Depois de muito puxar, pouco a pouco foi saindo da caverna um feio e grande monstro, muito repugnante, que segurava fortemente um cabo, ao qual estavam atados todos os laços
!
Era esse monstro que, mal alguém caía na rede, imediatamente puxava-o para si.

É inútil - pensei comigo - competir em força com esse monstro medonho, porque não sou capaz de vencê-lo.
O melhor é combatê-lo com o Sinal da Santa Cruz e com Jaculatórias.

Voltei para junto do meu Guia, e ele perguntou-me:
-
Já sabes agora o que é?
- Sim, já sei! É o Demónio que estende esses laços, para fazer os meus jovens caírem no Inferno!

Observei então, com atenção, os muitos laços, e vi que cada um deles levava escrito o seu próprio título:
laço da soberba, da desobediência, da inveja, da impureza, do roubo, da gula, da preguiça, da ira, etc.
Verificado isso, coloquei-me um pouco atrás para observar quais daqueles laços colhiam maior número de jovens.
Eram os da impureza, da desobediência e do orgulho.

A este último laço (do orgulho) estavam atados os outros dois (da impureza e da desobediência).
Além desses, vi muitos outros laços que faziam grandes estragos, mas não tantos como os primeiros.
Sem parar de observar, vi que muitos jovens corriam mais precipitadamente que outros, e perguntei:

- Porquê essa velocidade?
- Porque são arrastados pelos laços do respeito humano -
respondeu-me.

Olhando ainda mais atentamente, vi que, por entre os laços, havia muitas facas espalhadas, ali colocadas por mão providencial, e serviam para cortar ou romper os laços.
A faca maior era contra o laço do orgulho, e representava a Meditação espiritual.
Outra faca também grande, mas um pouco menor, significava a Leitura Divina bem feita.

Havia também duas espadas.
Uma delas indicava a Devoção ao Santíssimo Sacramento, especialmente com a Comunhão frequente; e a outra espada simbolizava a Devoção a Nossa Senhora.

Havia também um martelo, representando o Sacramento da Confissão.
E havia ainda outras facas, símbolos de várias devoções: a São José, a S. Luís Gonzaga, etc., etc.
Com essas armas, bastantes jovens rompiam os laços quando eram presos, ou defendiam-se para não serem atados.

Vi, com efeito, jovens que passavam entre os laços, sem nunca serem colhidos, ou passavam antes que o laço caísse, ou sabiam esquivar-se e o laço escorregava sobre os ombros, sobre as costas, de um lado ou de outro, sem contudo poder aprisioná-los.

Quando o Guia se deu conta de que eu havia observado tudo, fez-me continuar o caminho, bordado de rosas que, enquanto avançávamos, iam-se tornando mais raras, assim como começavam a fazer-se notar enormes espinhos.

Chegámos a um ponto em que, por mais que eu olhasse, já não encontrava rosa alguma, e no final as sebes haviam-se tornado só de espinhos, desfolhadas e secas pelo sol.
Das moitas dispersas e ressequidas, partiam galhos que serpenteavam pelo solo e invadiam o caminho com espinhos, de tal maneira que só com grande dificuldade se conseguia passar.

Havíamos chegado a um vale, cujas ribanceiras ocultavam as demais regiões vizinhas; e o caminho, sempre em declive, tornava-se cada vez mais horrível, sem pavimentação, cheio de buracos e degraus, de pedras e rochas agrestes.
Havia perdido de vista todos os meus jovens, muitíssimos dos quais haviam saído daquele caminho traiçoeiro, para seguirem outros rumos.

Continuei caminhando, e quanto mais avançava, mais áspera e rápida era a descida, de modo que às vezes resvalava e caía por terra, onde ficava um pouco para retomar o fôlego.
De tempos a tempos, o Guia sustentava-me e ajudava-me a levantar.
A cada passo, as articulações dobravam-se-me e parecia que os meus ossos iam desconjuntar-se.

Ofegante, eu dizia ao meu Companheiro:
- Meu amigo, as minhas pernas já não podem sustentar-me: estou tão esgotado que me é impossível prosseguir a caminhada!
O Guia não respondeu, mas fazendo-me sinal para ter ânimo, continuou o caminho; até que, vendo-me suado e morto de cansaço, conduziu-me a um patamarzinho que havia na entrada.

Sentei-me, respirei profundamente e pareceu-me descansar um pouco.
Eu olhava entrementes o caminho percorrido, que me parecia quase vertical, semeado de espinhos e pedras ponteagudas.
Olhava depois o caminho que ainda devia percorrer, e fechava os olhos aturdido.

Por fim, exclamei ao meu Companheiro:

- Por caridade, voltemos par trás! Se continuarmos adiante, como faremos para regressar ao Oratório?
Na volta, ser-me-á impossível subir esta encosta!
O Guia respondeu, resolutamente:
-
Agora que chegámos a este ponto, queres que te deixe só?

Diante da ameaça, exclamei em tom dolorido:
- Sem ti, não poderei voltar para trás, nem continuar a viagem!
- Pois bem, segue-me
- acrescentou.

Levantei-me e continuámos descendo.
O caminho tornava-se cada vez mais espantoso e intransitável, de maneira que mal podia manter-me em pé!

E eis que, no fundo desse precipício, que terminava num vale sombrio, apareceu um imenso edifício que exibia, diante do nosso caminho, uma porta altíssima, fechada!
Chegamos ao fundo do precipício...

Um calor sufocante oprimia-me, e uma densa fumaça esverdeada elevava-se em torno das muralhas, marcadas por chamas cor de sangue.
Levantei os olhos para ver a altura dos muros.
Eram mais altos que uma montanha!


Perguntei ao Guia:
- Onde é que nos encontramos? Que é isso?
- Lê naquela porta, pela inscrição saberás onde estamos - respondeu.

Olhei e vi escrito na porta:
"Ubi non est redemptio!"
[Onde não há redenção!]
Dei-me conta de que estávamos na... Porta do Inferno
!


O Guia levou-me a fazer o contorno das muralhas daquela horrível cidade.
De espaço a espaço, a uma distância regular, via-se uma porta de bronze, como a primeira, também no ponto final de uma espantosa vertente, e todas as portas tinham uma inscrição latina, distinta das anteriores.

"Discedite, maledicti, in ignem aeternum, qui paratus est diabolo et angelis eius... Omnis arbor quae non facit fructum bonum excidetur et in ignem mittetur!"
[Afastai-vos, malditos, ide para o fogo eterno, que está preparado para o Diabo e seus anjos... Toda a árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo!]...


(Continua)


+ + + + +



Fonte: Igreja Online


Adaptação:
Nova Evangelização Católica

domingo, 16 de maio de 2010

Visões de S. João Bosco - II
* O PURGATÓRIO





* * * * *



Visão de D. Bosco


Sobre o PURGATÓRIO




Ontem à noite, depois dos meus queridos jovens terem-se deitado, não conseguindo eu adormecer logo, estava a pensar na natureza e no modo da existência da Alma:
Como ela era feita; de que modo poderia encontrar-se e falar na outra vida, estando separada do corpo; como faria para deslocar-se dum lugar para o outro; como nos poderemos reconhecer uns aos outros depois da morte, não sendo então senão puros espíritos.
E quanto mais pensava nessas coisas, mais obscuro me parecia tal mistério.

Enquanto divagava por essas ideias e outras semelhantes, adormeci..., e pareceu-me então que estava na estrada que conduz a... (Dom Bosco nomeou a localidade), e que eu caminhava nessa mesma direcção.
Andei durante algum tempo, atravessei lugares para mim desconhecidos, até que, em certo momento, ouvi que alguém chamava pelo meu nome.
Era a voz duma pessoa, parada na estrada:


– Vem comigo – disse-me a estranha personagem – e poderás ver logo o que desejas!
Obedeci imediatamente.
Mas a pessoa andava com a rapidez do pensamento, e eu no mesmo passo desse meu Guia.

Andávamos de maneira tal que os nossos pés nem tocavam no solo.
Chegados por fim a uma certa região, que eu desconhecia, o Guia parou...

Erguia-se, sobre uma proeminência do terreno, um magnífico palácio, de construção admirável.
Não sabia onde estava, nem sobre qual montanha; nem me recordo mais se estava realmente numa montanha, ou se estava no ar sobre as nuvens.
Era inacessível, e não se via caminho algum para poder chegar até ao palácio.
As suas portas eram de considerável altura...


– Sobe a esse palácio – disse-me o Guia.
– Como vou fazer? observei eu.
Como fazer para subir? Aqui por baixo não há entrada, e eu não tenho asas.

– Sobe! replicou ele, com autoridade. E vendo que eu não me movia, acrescentou:
– Faz como eu: Levanta os braços, de boa vontade, e subirás. Vem comigo.

E assim dizendo, levantou ao alto as mãos, dirigindo-as para cima.
Eu também abri os braços, e senti-me logo alçado pelos ares, como uma nuvenzinha.
Eis que chego aos umbrais do palácio, e o Guia acompanhou-me até lá.

– O que há lá dentro? perguntei.
– Entra, visita-o e verás. Ao fundo, num salão, encontrarás quem te ensinará.

E ele desapareceu, ficando só eu, como guia de mim mesmo.
Entrei no pórtico, subi as escadas e cheguei a um salão verdadeiramente régio.
Percorri salas espaçosas, aposentos riquíssimos de ornamentos, e longos corredores.
Caminhava com velocidade muito acima da normal.

Cada sala brilhava com a magnificência de tesouros espantosos, e naquela velocidade percorri tantos aposentos, que me foi impossível contá-los.
Mas uma coisa era mais admirável: para correr com a rapidez do vento, eu não movia os pés.
Suspenso no ar, com as pernas juntas, deslizava sem esforço, como sobre um cristal, mas sem tocar no pavimento.


* * *


Passando assim de um aposento a outro, vi finalmente, no fundo dum corredor, uma porta.
Entrei e encontrei-me num salão grande, que superava em magnificência todos os demais.

No fundo dele, sobre uma cadeira de espaldar alto, avistei um Bispo, majestosamente sentado, em posição de quem se prepara para dar audiência.

Aproximei-me com respeito, e fiquei admiradíssimo por reconhecer naquele Prelado um íntimo amigo meu:

Era Dom... (D. Bosco disse o nome dele, etc.), Bispo de..., falecido há já dois anos.
Parecia sentir-se muito bem, e o seu aspecto era radiante, afectuoso, e de tão grande beleza que eu não consigo exprimi-la...

– Oh! Senhor Bispo, vós por aqui? – perguntei, com grande alegria.
Não me vê? perguntou o Bispo.

– Mas, como é isso? Ainda estais vivo? Não morrestes?
Sim, morri respondeu o Bispo.

– Se morrestes, como é que estais sentado aqui, tão radiante e satisfeito? Se ainda estais vivo, por caridade, esclarecei-me: Na Diocese de..., há já um outro Bispo, Dom..., no vosso lugar. Como se explica tal confusão?
Esteja tranquilo, e não se preocupe, que eu já morri...

– Ainda bem que já está outro Bispo no vosso lugar.
Eu sei disso. E o senhor Dom Bosco, está vivo ou morto?

– Eu estou vivo. Não vedes que estou aqui, em corpo e alma?
Aqui, não se pode ver com o corpo.

– Mas, sem embargo, aqui estou – respondi-lhe eu.
– Isso é o que lhe parece; mas não é assim
– disse-me ele...


E apressei-me em falar-lhe, fazendo perguntas e mais perguntas, sem receber mais respostas...
Até que perguntei-lhe:
– Como pode ser que eu, estando vivo, esteja aqui convosco, senhor Bispo, enquanto vós já morrestes?

Tinha receio de que o Bispo desaparecesse, pelo que lhe roguei:
– Senhor Bispo, por caridade, não me deixeis. Preciso de saber muitas coisas. Dizei-me, senhor Bispo: Salvastes a vossa alma?

O Bispo, vendo-me tão ansioso, disse:
Não se aflija tanto e fique calmo, que eu não fugirei. Pode falar.

– Dizei-me, senhor Bispo, estais salvo?
Olhe-me e observe como estou robusto, cheio de louçania e brilho.

O seu aspecto dava-me realmente a certeza de que estava salvo; mas, não me contentando com essa impressão, repliquei:
– Dizei-me se estais salvo: Sim, ou não?
Sim, estou num lugar de salvação.

– Mas já estais no Paraíso, gozando do Senhor? Ou estais ainda no Purgatório?
Estou num lugar de salvação, mas ainda não vi a Deus, pelo que necessito de que rezem por mim.

– E quanto tempo ainda devereis estar no Purgatório?
– Olhe aqui e leia
– disse ele, apresentando-me uma folha de papel.

Tomei na mão o papel, observei-o atentamente, mas nada vendo escrito, disse-lhe:
– Não vejo nada!
Veja bem o que nele está escrito, e leia.


– Já olhei com atenção e estou a olhar novamente, mas nada posso ler, porque nada há escrito aqui.
Veja com mais atenção!

– Vejo um papel com floreados vermelhos, azuis, verdes, cor de violeta, mas não encontro letra alguma.
– São algarismos
– respondeu o Bispo.
– Não vejo letras, nem números – disse eu.

O Bispo olhou o papel que eu tinha nas mãos e disse:
Já sei porquê o senhor não vê nada. Vire o papel ao contrário...

Examinei a folha com maior atenção, virei-a de todos os lados; mas nem dum lado nem doutro, nada consegui ler.
Somente pareceu-me ver, entre uma infinidade de traços e desenhos, o número 8.
– O senhor Dom Bosco sabe por que é necessário ler ao contrário?
E continuou o Bispo:
É porque os Juízos do Senhor são completamente distintos dos juízos do mundo. O que os homens julgam ser sabedoria, é tolice aos olhos de Deus.

Não tive coragem de insistir para que explicasse mais claramente, e disse:
– Senhor Bispo, não vos afasteis. Quero perguntar-vos mais coisas.
Pois pergunte, que eu escuto-o.

– Eu salvar-me-ei?
Deve ter esperança nisso.

– Não me façais sofrer. Dizei-me já se me salvarei.
Não sei.

– Pelo menos, dizei-me se estou na Graça de Deus.
Não sei.

– E os meus meninos, salvar-se-ão?
Não sei.

– Mas, por favor, dizei-me. Estou implorando.
O senhor estudou Teologia, e portanto pode saber, pode dar a resposta a si mesmo.

– Mas, como? Estais num lugar de salvação e ignorais essas coisas?
O Senhor dá-as a conhecer a quem quer. E quando quer que elas sejam comunicadas, dá ordem e permissão para tal.
A não ser assim, ninguém pode comunicar com os que ainda vivem.


Eu estava nervoso, na impaciência de fazer mais perguntas, e fazia-as apressadamente, com receio de que o senhor Bispo se retirasse...

– Dizei-me algo, para transmitir da vossa parte aos meus meninos.
O senhor Dom Bosco sabe, tanto quanto eu, o que eles devem fazer.
Tendes a Igreja, o Evangelho e as demais Escrituras, que tudo vos dizem.
Diga-lhes, sim, que salvem as suas almas, pois tudo o mais de nada serve.

– Já sabemos que devemos salvar a alma. Mas que devemos fazer para salvá-la?
Dai-me alguma recomendação especial de salvação, que nos faça lembrar de vós. Eu repeti-la-ei aos meus rapazes, em vosso nome.
Diga-lhes que sejam bons e obedientes.

– Quem é que não sabe essas coisas?
Diga-lhes que sejam puros e que rezem.

– Mas, por favor, explicai-vos em termos mais detalhados.
– Diga-lhes que se confessem com frequência e que façam boas confissões.

– Alguma outra coisa ainda mais concreta?
– Pois d
irei já o que pretende:
Diga-lhes que têm diante dos olhos uma neblina, e que, quando alguém chega a vê-la, já está muito adiantada.
Que eles afastem, pois, essa neblina, como se lê nos Salmos:
"Nubem dissipa"...

– Que neblina é essa?
São todas as coisas mundanas que impedem de ver as coisas celestiais como de facto são.

– E o que devem fazer para afastar essa neblina?
– Que c
onsiderem o mundo exactamente como ele é – "Mundus totus in maligno positus est [o mundo está todo posto no maligno]" –, e então salvarão a alma.
Que eles não se deixem enganar pelas aparências do mundo.
Os jovens crêem que os prazeres, as alegrias, as amizades do mundo, podem fazê-los felizes, e portanto, não esperam senão o momento de poder gozar esses prazeres.
Mas recordem-se de que tudo é vaidade e aflição de espírito, e tomem o hábito de ver as coisas do mundo, não como elas parecem ser, mas como elas realmente são.


– E essa neblina, como é especialmente produzida?
Assim como a virtude que mais brilha no Paraíso é a Pureza, assim a obscuridade e a neblina são produzidas, principalmente, pelo pecado da imodéstia e impureza.
É como uma negra nuvem densíssima que tolda a visão e impede os jovens de verem o precipício, rumo ao qual caminham.
Diga-lhes, portanto, que conservem zelosamente a virtude da Pureza, porque os que a possuem "
florebunt sicut lilium in civitate Dei [florescerão como o lírio na cidade de Deus]".

– E o que se requer para conservar a Pureza? Dizei-me, e di-lo-ei aos meus caros jovens, da vossa parte.
Recolhimento, obediência, fuga do ócio e oração.

E o que mais?
Oração, fuga do ócio, obediência e recolhimento.

– Nada mais?
Obediência, recolhimento, oração e fuga do ócio.
Recomende-lhes estas coisas, que elas são suficientes.

Teria querido perguntar-lhe muitas coisas mais; porém, não me vinham à lembrança.
Assim é que, mal o Bispo terminou de falar, impaciente para vos transmitir aqueles avisos, deixei apressadamente o salão e corri para o Oratório.
Voava com a rapidez do vento, e num instante encontrei-me à porta de casa.

Mas ao chegar, parei e pensei:
Por que não permaneci mais tempo com o senhor Bispo?
Teria conseguido ainda melhores esclarecimentos. Fiz mal em deixar escapar essa ocasião tão boa. Teria aprendido muitas coisas interessantes...

Imediatamente, voltei atrás com a mesma rapidez com que tinha vindo, receoso de não mais encontrar o senhor Bispo.
Entrei novamente no palácio e no salão...





* * *


Mas que mudanças se haviam operado em poucos instantes!
O Bispo, pálido como cera, estava agora estendido sobre um leito, e parecia um cadáver!
Nos seus olhos brilhavam ainda as últimas lágrimas, pois estava em agonia!

Só pelo ligeiro movimento do peito, produzido pelos últimos alentos, se deduzia que ainda estava vivo.
Aproximei-me, com grande preocupação, e perguntei-lhe:

– Senhor Bispo, o que vos aconteceu?
Deixe-me! – respondeu, com um gemido.

– Teria ainda muitas coisas para vos perguntar.
Deixe-me só! Sofro profundamente!

– Que posso fazer por vós?
Reze, e deixe-me ir embora!

– Para onde?
Para onde me conduz a Mão omnipotente de Deus.

– Mas, senhor Bispo, rogo-vos que me digais o local.
Sofro imensamente, deixe-me!

Eu repetia:
– Mas ao menos dizei-me: O que posso fazer por vós?
Reze por mim.

– Uma só pergunta: Tendes algum encargo que eu possa fazer-vos no mundo? Não quereis dizer nada para o vosso sucessor?
Vá ao actual Bispo de..., e diga-lhe, da minha parte, tal e tal coisa...


As coisas que me disse não vos interessam, queridos jovens, e por isso as omito...
E o Bispo acrescentou:
Diga também a tais e tais pessoas, tais e tais coisas secretas...

(Também sobre esses recados, Dom Bosco calou-se.
Mas tanto os primeiros como os segundos recados, parece que se referem a avisos e remédios com respeito à sua antiga Diocese).

– Nada mais?
Diga aos seus jovens que eu sempre lhes quis muito bem, e que eu, enquanto vivi, sempre rezei por eles, e ainda agora me recordo deles.
Que eles também rezem por mim.


– Tende a certeza, senhor Bispo, de que assim o direi. Começaremos imediatamente a oferecer sufrágios por vossa Alma.
E quando o senhor Bispo estiver no Paraíso, lembre-se de nós.
O Bispo tinha tomado um aspecto ainda mais sofredor!
Era um tormento vê-lo, pois sofria muitíssimo! Era uma agonia das mais angustiosas!
Deixe-me! Deixe-me que vá para onde o Senhor me chama! – respondeu ele.

– Senhor Bispo! Senhor Bispo! repetia eu, cheio de indizível compaixão.
Deixe-me, deixe-me!
insistia ele, dolorosamente.

Parecia que expirava!
E logo uma força invisível arrastou-o dali para habitações mais interiores, e desse modo desapareceu...

Eu, assustado e comovido com todo esse sofrimento, quis voltar atrás; mas, tendo batido com o joelho num objecto qualquer daquela sala, acordei, e encontrei-me de repente deitado no meu quarto...

Como vedes, caros jovens, este foi um sonho semelhante aos demais.
E no que se refere a vós, não tendes necessidade de mais explicações, porque todos entendeste-las bem.

E Dom Bosco concluiu a narração, dizendo:
Neste sonho, aprendi tantas coisas, a respeito da Alma e do Purgatório, como antes jamais havia chegado a compreender; e vi-as tão claramente que jamais as esquecerei.


* * *

Assim termina a narração dos nossos apontamentos.
Parece que, em dois quadros distintos, o Venerável Dom Bosco quis expor o estado de graça das Almas do Purgatório, e os seus sofrimentos expiatórios.

Nenhum comentário ele fez acerca do estado daquele bom Bispo.
Sabe-se, aliás, por revelações digníssimas de fé e pelo testemunho dos Santos Padres, que até algumas almas de santidade consumada, lírios de virginal pureza, carregadas de méritos, fazedores de milagres, almas que nós hoje veneramos nos altares, também tiveram de permanecer algum tempo no Purgatório, por impurezas ou defeitos ligeiríssimos (não devidamente expiados neste mundo).
A Justiça Divina quer que, antes de entrar no Céu, cada um pague até à última parcela das suas dívidas.

Nós, que escrevemos esta visão, tendo perguntado a Dom Bosco, algum tempo depois, se havia executado os encargos recebidos daquele Prelado, com a confiança com que ele nos honrava, respondeu-nos:
"Sim, executei fielmente o que ele me recomendou".

Observámos também que a pessoa, que transcreveu o sonho, omitiu uma circunstância, que agora nós recordamos, talvez porque então não entendia o seu sentido e importância:
Dom Bosco havia perguntado, a certa altura, quanto tempo ele mesmo ainda viveria, e o Bispo havia-lhe apresentado um papel cheio de rabiscos entrecruzados, parecidos com o número 8, mas sem dar explicação alguma desse mistério...
Indicaria o ano de 1888, ano em que Dom Bosco faleceu.


S. João Bosco começou por chamar Oratório, ou Oratório Festivo, às reuniões que fazia para os jovens, nos Domingos e Dias de Festa.
Nessas reuniões, rezava com os rapazes, dava catequese, ministrava os Sacramentos e proporcionava sadia recreação.
Com o passar do tempo, o Oratório passou a designar, por extensão, o local de Turim onde o Santo estabeleceu a sua obra.

Na Itália, o tratamento respeitoso de "Dom" (de 'dominus', isto é, senhor) é dado habitualmente aos Sacerdotes seculares.
No Oratório, chamava-se “Boa noite” à alocução, geralmente breve, que Dom Bosco costumava fazer, no fim de cada dia.
Tal costume permanece até hoje, nas Casas salesianas.

Da narrativa de S. João Bosco, pode certamente depreender-se que, neste caso concreto (assim como no doutros semelhantes), não se tratou de um sonho normal, mas de uma autêntica visão sobrenatural.
Na sua profunda humildade, o Santo terá tentado ocultar, com as frases que acabámos de ler, o verdadeiro carácter místico dessas revelações recebidas.
[...]




* * * * *



Fonte: Igreja Online


Adaptação:
Nova Evangelização Católica

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Visões de S. João Bosco
* O PARAÍSO CELESTE - 3





* * * * * * *



O Paraíso Celeste


Visão de S. João Bosco


= 3.ª Parte =


Continua e conclui assim
a visão sobrenatural de
S. João Bosco com
S. Domingos Sávio

sobre o Paraíso:


Então, recorda Domingos Sávio a D. Bosco:
«Se queres que te responda a mais alguma coisa, apressa-te»...

— Quanto ao futuro, o que me dizes? — interroga Dom Bosco.
Com respeito ao futuro, no próximo ano (de 1877) terás que sofrer uma grande dor; seis mais dois, dos que te são mais caros, serão chamados por Deus à Eternidade.
Mas consola-te, pois serão transplantados do campo do mundo para os jardins do Paraíso. Serão coroados.
Não temas, pois o Senhor te ajudará e te mandará outros filhos igualmente bons.

— Paciência! E no que se refere à Congregação salesiana?
— No tocante à Congregação, fica sabendo que Deus te prepara grandes acontecimentos.
No ano próximo, surgirá para ela uma aurora de glória tão esplêndida, que iluminará como um relâmpago os quatro cantos do mundo; do oriente ao poente, do norte ao sul. Grande glória lhe está preparada.
Tu deves zelar para que o carro, no qual vai o Senhor, não seja afastado pelos teus, fora das suas guias e dos seus caminhos.

Se os teus sacerdotes souberem bem conduzi-lo e se forem dignos da alta missão que lhes foi confiada, esplêndido será o futuro e imensas serão as pessoas que salvarão.
Mas com uma condição:
Que os teus filhos sejam devotos da Santíssima Virgem, e saibam, todos os que vivem em tua casa, conservar a virtude da Castidade, tão agradável aos olhos de Deus.

— Gostaria agora que me falasses algo sobre a Igreja em geral.
— Os destinos da Igreja estão nas mãos de Deus Criador.
O que Ele determinou em Seus infinitos decretos, não te posso revelar.
Tais arcanos reserva-os Ele exclusivamente para Si, e deles não participa nenhum dos espíritos criados.

— E sobre o Papa Pio IX?
— O que posso dizer-te, é que o Pastor da Igreja não terá que sustentar ainda longos combates na Terra. Poucas são as batalhas que ainda lhe resta vencer.
Brevemente, será arrebatado do seu trono, e o Senhor dar-lhe-á a merecida recompensa.
O resto já é bem sabido. A Igreja não perece...
Tens ainda algo para perguntar-me?

— E quanto a mim? — disse-lhe.
— Oh, se soubesses por quantas vicissitudes terás ainda que passar!
Mas apressa-te, que já muito pouco tempo resta-me para falar contigo.

Com ardor, estendi então as mãos para tocar naquele santo Filho; mas as suas mãos pareciam aéreas, não podendo senti-las...
«Que loucura! Que estás fazendo?» — disse-me Sávio, sorrindo.

— Temo que te vás — exclamei. — Mas não estás aqui com o teu corpo?
— Com o corpo, não. Recuperá-lo-ei no último dia.

— O que são, então, esses traços que me fazem ver em ti a figura de Domingos Sávio?
— Quando, por permissão Divina, uma alma separada do corpo aparece diante de algum mortal, apresenta-se com a forma exterior do corpo que em vida animou, com todas as suas feições exteriores, embora muito embelezadas, e assim as conserva até que volte a unir-se a ele, no dia do Juízo universal.
Só então levá-lo-à consigo para o Paraíso.
É por isso que te parece que tenho mãos, pés e cabeça; mas tu não podes segurar-me, porque sou puro espírito.
Esta é só uma forma exterior, pela qual me podes conhecer.


— Compreendo — respondi —, mas escuta ainda uma pergunta:
Os meus jovens estão todos no recto caminho da salvação?
Diz-me alguma coisa, para que possa bem dirigi-los.
Os filhos que a Divina Providência te confiou, podem ser divididos em três categorias.
Vês estas três listas? Olha-as...

E apresentou-me a 'primeira lista':
Encabeçava-a a palavra "Invulnerati" [Ilesos],
e continha os nomes daqueles que não mancharam a inocência com culpa alguma, aos quais o Demónio não conseguiu ferir.
Eram em grande número esses bem-aventurados sadios, e vi-os todos.
A muitos já conhecia; a outros era a primeira vez que os via, e certamente viriam para o Oratório nos anos futuros.
Caminhavam direitos por um caminho estreito, apesar de serem alvo de flechas, espadagadas e lançadas, que de todos os lados choviam sobre eles.
Essas armas formavam como que uma sebe, ao longo das duas bordas do caminho, combatendo-os e molestando-os, sem entretanto feri-los.

De seguida, Sávio entregou-me a 'segunda lista', cujo título era "Vulnerati" [feridos]; ou seja, aqueles que haviam estado na inimizade de Deus, mas que, uma vez postos de pé, haviam curado as suas feridas, arrependendo-se e confessando-se.
Eram em maior número que os primeiros, e haviam sido feridos nos atalhos da vida, pelos inimigos que os flanqueavam durante a sua viagem.
Li a lista e vi-os a todos. Muitos iam curvados e desanimados.

Sávio tinha ainda na mão a 'terceira lista'...
Encabeçava-a a epígrafe:
"Lassati in via iniquitatis" [Caídos na via da iniquidade].
Nela, estavam escritos os nomes dos que se encontravam na desgraça de Deus!

Eu estava impaciente para conhecer esse funesto segredo, pelo que estendi a mão...

Mas Sávio disse-me, com vivacidade:
«Não, espera um momento, e ouve:
Se abrires agora essa folha, dela sairá um tal mau cheiro que nem tu, nem eu, poderemos suportar.
Os Anjos têm que se retirar com asco e horror, e o próprio Espírito Santo sente repugnância pela horrível hediondez de tais pecados».

— Mas como pode ser isso — observei —, se Deus e os Anjos são impassíveis? Como podem sentir o mau cheiro da matéria?
— Quanto melhores e mais puras são as criaturas, tanto mais se acercam dos Espíritos celestiais;
pelo contrário, quanto pior, mais desonesto e torpe é alguém, tanto mais se afasta de Deus e dos Anjos, os quais, por sua vez, se afastam dele, por se ter convertido num objecto de náusea e repugnância.


Passou-me então essa 'terceira lista'...
«Toma-a — disse ele —, abre-a, e aproveita-te dela para bem dos teus jovens.
Mas não te esqueças do ramalhete que te dei; que todos o tenham e conservem»...

Dito isto, depois de entregar-me a 'última lista', Domingos Sávio logo retirou-se apressadamente do meio dos seus companheiros, como se estivesse fugindo de algo.

Abri então a 'terceira lista', mas não vi nenhum nome escrito...
Porém, no mesmo instante, foram-me apresentados de chofre todos os indivíduos nela inscritos, como se na realidade eu visse as suas pessoas.
Com quanta tristeza observei todos eles!
A maior parte eu conhecia, pois pertence ao Oratório e aos demais colégios salesianos.
Vi muitos que parecem bons, que até pareciam os melhores dentre os companheiros,
mas infelizmente não o são!

Efectiva e tragicamente, no acto de abrir a 'terceira lista', espalhou-se em meu redor um cheiro tão insuportável e nauseabundo, que logo me vi assaltado por uma terrível dor de cabeça, e por tantas ânsias e vómitos, que me parecia estar a morrer!

Entretanto, obscureceu-se o ambiente, e logo desapareceu a visão, nada mais eu vendo do anterior e maravilhoso espectáculo.
Ao mesmo tempo, ziguezagueou um raio e ressoou um trovão no espaço, tão forte e terrível que acordei sobressaltado...

Esse mau odor penetrou nas paredes e infiltrou-se nas minhas vestes, de tal forma que, muitos dias depois, ainda me parece sentir tão horrível pestilência.
De tal modo o pecado é fétido perante os olhos de Deus, e até mesmo o nome do pecador!
Agora mesmo, só de recordar aquele mau odor, vêm-me calafrios, sinto-me sufocado e revolve-se-me o estômago.

Em Lanzo, onde me encontrava, comecei a interrogar de cá e de lá alguns rapazes, e pude certificar-me de que o sonho não me havia enganado.
É, pois, uma graça do Senhor, que me deu a conhecer o estado de alma de cada um de vós; mas disso nada direi em público.

Muitas outras explicações ainda haveria de dar, mas reservo-as para uma outra noite.
Por agora, só me resta desejar-vos uma boa noite...


O facto de, no sonho, ter visto como maus certos jovens, que eram geralmente considerados os melhores da casa, fez com que Dom Bosco, de início, admitisse a hipótese disso poder ter sido apenas uma ilusão.
E assim, prudentemente, começou a chamar alguns rapazes para uma conversa particular, pois queria certificar-se bem da natureza do sonho.
Por esse mesmo motivo, não se apressou a narrar logo o sonho, mas esperou uns 15 dias, quando se sentiu bem seguro de que essa visão provinha realmente de Deus.

O tempo ainda haveria de lhe trazer outras confirmações de profecias por ele contempladas.
A primeira delas, e a mais importante, dizia respeito ao número de seus filhos que morreriam no ano de 1877, discriminados em dois grupos: seis, mais dois.
Naquele ano, efectivamente, os registos do Oratório assinalaram com a costumeira cruz, sinal de falecimento, os nomes de seis rapazes e dois clérigos.

A segunda profecia anunciava para a Sociedade Salesiana, em 1877, uma aurora tão esplêndida que faria luz sobre os quatro cantos do mundo.
Com efeito, naquele ano, fizeram entrada, no panorama da Igreja, a Associação dos Cooperadores Salesianos e o Boletim Salesiano.
Eram duas instituições que haveriam de levar até os confins da Terra o conhecimento e a prática do espírito de Dom Bosco.

A terceira profecia dizia respeito ao final, relativamente próximo, da vida de Pio IX.
De facto, esse Papa deixou de viver catorze meses decorridos, depois do sonho.

A última profecia foi deveras amarga para Dom Bosco:
"Oh, se soubesses por quantas vicissitudes terás ainda que passar!"
Realmente, nos onze anos e dois meses que ainda durou a sua vida, lutas, fadigas e sacrifícios não lhe deram tréguas, até ao último momento.

A Delegacia da Polícia de Borgo Dora era regida, aquando do sonho, por um senhor que tinha diversas pessoas conhecidos no Oratório.
Tendo ouvido narrar o sonho, ficou muito impressionado com a previsão das oito mortes, supramencionadas.
Durante todo o ano de 1877, observou com atenção se a previsão realmente se cumpria.

Quando soube que, no último dia do ano, se realizara o oitavo óbito, resolveu abandonar o mundo, fez-se salesiano e trabalhou muito, na Itália e também na América.
Foi o Padre Ângelo Piccono, cujo nome permanece ainda na memória de muitos.




* * * * * * *


Fonte geral da corrente série:
. Igreja Online
.. O Sonho de Dom Bosco - Parte I - Céu

Salesianos Dom Bosco (Portugal)


Adaptação:
Nova Evangelização
Católica

sábado, 1 de maio de 2010

Visões de S. João Bosco
* O PARAÍSO CELESTE - 2






* * * * * * *


O Paraíso Celeste


Visão de S. João Bosco

= 2.ª Parte =



Ao pronunciar essas últimas palavras, parecia que Dom Bosco estava fazendo grande esforço para encontrar as expressões adequadas; e fê-lo com um gesto indescritível e um tom de voz que comoveu a todos, parecendo ter-se cansado nesse esforço para encontrar os termos que exprimissem inteiramente sua ideia.
Após breve pausa, ele prosseguiu:

Também resplandeciam de luz todos os outros que o acompanhavam.
Vestiam-se de modos diversos, mas sempre maravilhosos; uns mais, outros menos ricos; uns de uma, outros de outra forma; num, dominava determinada cor; noutro, dominava outra; e cada uma das vestes tinha um significado que ninguém saberia compreender.
Mas todos tinham na cintura uma faixa vermelha...

Eu continuava a observar e pensava:
"Que significará isso? Como vim parar neste local?"...
E não sabia aonde me encontrava.
Fora de mim, temeroso pela reverência que tudo aquilo me inspirava, não me atrevia a dizer nada.
Também os outros continuavam silenciosos.
Por fim, Domingos Sávio começou a falar:

— Por que estás aí mudo, e como que aniquilado?
Não és mais aquele homem que de nada tinha medo, que enfrentava intrépido as calúnias, as perseguições, os inimigos, as angústias e os perigos de toda a espécie?
Onde está tua coragem? Por que não falas?

Com grande dificuldade, respondi, quase balbuciando:
— Não sei o que dizer... Mas, não és tu Domingos Sávio?
— Sim, sou; já não me reconheces?

— E como te encontras aqui? — acrescentei, sempre confuso.
Sávio, então respondeu, com afecto:
— Vim aqui para falar-te, como tantas vezes nos falámos na Terra!
Não recordas quanto me amavas, quantas provas de amizade e quantas demonstrações de benevolência me deste?
E eu por acaso não correspondi aos teus desvelos?
Como era grande a minha confiança em ti!
Por que motivo, então, tremes?
Coragem! Pergunta-me alguma coisa.

Então, recobrando o ânimo, disse-lhe:
— Tremo, porque não sei onde me encontro.
— Estás no local da felicidade — respondeu Sávio —, onde se gozam todas as alegrias, todas as delícias.

— É este, pois, o prémio dos justos?
— Não, certamente. Aqui não se gozam os bens eternos, mas só, ainda que em medida grande, os temporais.

— Mas então, são naturais todas essas coisas?
— Sim, se bem que embelezadas pelo Poder de Deus.

— E a mim, que me parecia que isto era o Paraíso! — exclamei.
— Não, não — respondeu Sávio. — Nenhuns olhos mortais podem ver as belezas eternas.

— E essas músicas — prossegui, perguntando —, são as harmonias de que gozais no Paraíso?
— Não, já te disse que não.

— São sons naturais?
— Sim, são naturais, mas aperfeiçoados pela Omnipotência de Deus.


— E esta luz, que sobrepuja a luz do Sol, é luz sobrenatural? É a luz do Paraíso?
— É luz natural, embora avivada e aperfeiçoada pela Omnipotência Divina.
— E eu não poderia ver um pouco de luz sobrenatural?
— Ninguém pode vê-la, enquanto não chegar a hora de ver a Deus "sicut est" [tal como Ele é].
O menor raio dessa luz tiraria, no mesmo instante, a vida de um homem, porque ela não é suportável pelas forças humanas.

— E poderia haver uma luz natural ainda mais bela do que esta?
— Se soubesses! Se visses somente um raio de luz natural, elevada a um grau superior a este, ficarias fora de ti.

— E não posso ver, ao menos, um raio dessa luz de que falas?
Sim, podes vê-lo, e terás a prova do que te digo; abre os olhos...

— Já os tenho abertos — respondi.
— Olha bem, no fundo desse mar de cristal...

Levantei a vista, e apareceu de repente no Céu, a uma distância imensa, uma instantânea centelha de luz, subtilíssima como um fio, mas tão brilhante, tão penetrante, que os meus olhos não puderam resistir.
Logo fechei-os, e lancei um grito tão forte que despertou o Padre Lemoyne (aqui presente), que dormia num quarto próximo...

Assustado, ele perguntou-me, na manhã seguinte, o que me acontecera de noite, para estar assim tão agitado.
Aquele fiozinho de luz era cem milhões de vezes mais claro que o Sol, e o seu fulgor bastaria para iluminar todo o Universo criado.
Após alguns instantes, consegui abrir os olhos, e perguntei a Domingos Sávio:

— Isso que vi, será talvez um raio divino?
Sávio respondeu:
— Não, não é luz sobrenatural; se bem que, comparada com a terrestre, seja tão superior em brilho.
Não é senão luz natural, assim avivada pelo Poder de Deus.
E ainda que imaginasses uma imensa zona de luz semelhante à centelhazinha que viste lá no fundo, rodeando todo o Mundo, nem por isso formarias para ti uma ideia dos esplendores do Paraíso.

— E vós, de que gozais, pois, no Paraíso?
— Ah, é impossível revelar-te tais coisas celestiais!
O que se goza no Paraíso nenhum homem mortal pode sabê-lo, enquanto não deixar esta vida e se reunir ao seu Criador.
Basta dizer que se goza o Próprio Deus.

Entretanto, eu já me recobrara plenamente deste meu primeiro aturdimento, pois contemplava absorto a beleza de Domingos Sávio, e com franqueza perguntei-lhe:

— Por que tens essa veste tão alva e deslumbrante?
Sávio calou-se, sem dar mostras de querer responder.
Mas o coro retomou então as suas harmonias e cantou, acompanhado de todos os instrumentos:

Ipsi habuerunt lumbos praecinctos et dealbaverunt stolas suas in Sanguine Agni [Eles tiveram os rins cingidos e purificaram as suas vestes no Sangue do Cordeiro].

— E por qual motivo – voltei a perguntar quando cessou o canto – tens essa faixa vermelha na tua cintura?

Nem sequer desta vez Sávio respondeu, mas antes fez sinal de que não queria fazê-lo.
Então, o Padre Alasonatti, em solo, pôs-se a cantar:

Virgines enim sunt, et sequuntur Agnum quocumque ierit [São virgens e seguirão o Cordeiro aonde quer que vá].


* * * * *


Compreendi, então, que a faixa encarnada, cor de sangue, era símbolo dos grandes sacrifícios feitos, dos violentos esforços e do quase martírio sofrido para conservar a virtude da Pureza; e que, para manter-se casto na presença do Senhor, ele teria estado pronto a dar a vida, se as circunstâncias o houvessem requerido; e que também era símbolo das penitências que limpam a alma da culpa.
A brancura e o esplendor da túnica significavam a inocência baptismal conservada.

Mas eu, atraído pelos cantos e contemplando todas aquelas falanges de jovens celestiais, ordenados atrás de Domingos Sávio, perguntei-lhe:

— Quem são estes que te rodeiam?
E, dirigindo-me aos demais, interroguei-os:
Como é que estais todos tão refulgentes?

Sávio continuou calado, mas todos os jovens logo puseram-se a cantar:
Hi sunt sicut Angeli Dei in Caelo [Estes são como Anjos de Deus no Céu].

Notava, entretanto, que Sávio parecia ter proeminência sobre aquela multidão, que a respeitosa distância se encontrava, uns dez passos atrás dele; e então perguntei-lhe:

— Diz-me, Sávio: Sendo tu o mais jovem entre os muitos que te seguem, e dos que morreram em nossas casas, por que vais tu assim à frente deles, precedendo-os? Por que és tu que falas, enquanto eles se calam?
— Eu sou o mais velho de todos.

— Não, muitos outros te superam em anos.
— Eu sou o mais antigo do Oratório — repetiu Domingos Sávio —, porque fui o primeiro a deixar o mundo, indo para a outra vida.
Além disso, "legatione Dei fungor"
[por mandato de Deus].

Essa resposta indicava-me o motivo da visão, pois ele era um embaixador de Deus.
— Então — disse-lhe —, falemos do que agora mais nos importa.
— Sim, e pergunta-me já o que ainda desejas saber.
As horas passam, e poderia acabar-se o tempo que me foi concedido para falar-te, pelo que já não mais poder-me-ias ver.

— Ao que parece, tens algum assunto de suma importância para me comunicares.
— Que irei dizer-te eu, miserável criatura? — acrescentou Sávio, com profunda humildade. — Recebi do Alto a missão de falar-te, e por isso vim.

— Então — pedi-lhe — fala-me do passado, do presente e do futuro do nosso Oratório. Fala alguma coisa dos meus queridos filhos, fala da minha Congregação.
— A respeito da Congregação, muito teria que te comunicar.

— Revela-me, pois, o que sabes: Fala-me do passado.
— O passado recai todo sobre ti.

— Terei feito alguma das minhas... [algum pecado]?
— Quanto ao passado, digo-te que a tua Congregação já fez muito bem. Vês lá em baixo aquele número interminável de jovens?

— Vejo-os – respondi. — Como são numerosos! E como parecem felizes!
— Pois, olha o que está escrito na entrada do Jardim.


— Está escrito: "Jardim Salesiano".
— Pois bem — prosseguiu Sávio —, todos eles foram salesianos:
Ou foram educados por ti, ou contigo tiveram alguma relação; ou foram salvos por ti e pelos teus sacerdotes e clérigos, ou por outros que encaminhaste por via da sua vocação.
Conta-os, se fores capaz. O seu número, porém, seria mil vezes maior, se maior tivesse sido a tua Fé e a tua confiança no Senhor.

Lancei um suspiro, sem saber o que responder por tal reprimenda, mas disse de mim para comigo: 'Daqui por diante, procurarei ter essa Fé e essa Confiança'...
Depois, perguntei-lhe:

— E quanto ao presente?
Sávio apresentou-me, então, um magnífico ramalhete, que tinha nas mãos.
Nele havia: rosas, violetas, girassóis, gencianas, lírios, sempre-vivas, e entre as flores, espigas de trigo.

Ofereceu-mo e disse:
— Observa-o...

— Vejo-o, mas nada entendo — respondi.
— Dá este ramalhete aos teus filhos, para que possam oferecê-lo ao Senhor, quando chegar o momento; procura que todos o tenham; que a nenhum deles lhes falte, nem lho deixem tirar.
Podes estar certo de que, com ele, terão o suficiente para serem felizes.

— Mas, o que significa esse ramalhete de flores?
— Consulta a Teologia; ela to dirá e te dará a explicação.

— Estudei Teologia, mas não saberei como tirar dela o significado do que me apresentas.
— Tens a estrita obrigação de saber tudo isso.

— Por favor, tira-me desta ansiedade, explicando-me tu mesmo!
— Vês estas flores? Representam as virtudes que mais agradam ao Senhor.

— E quais são elas?
— A rosa é símbolo da Caridade; a violeta, da Humildade; o girassol, da Obediência; a genciana, da Penitência e Mortificação; as espigas, da Comunhão frequente; o lírio, indica a bela virtude da qual está escrito: "Erunt sicut Angeli Dei in Caelo", a Castidade. E a sempre-viva significa que todas essas virtudes devem durar sempre, pois ela simboliza a Perseverança.

— Ora bem, meu caro Sávio, tu, que durante a vida praticaste todas essas virtudes, diz-me: O que foi que mais te consolou na hora da morte?
— O que te parece que possa ter sido? — interrogou Sávio.

— Foi, talvez, teres conservado a bela virtude da Pureza.
— Não, não foi só isso.

— Alegrou-te, talvez, teres a consciência tranquila?
— Isso é bom; porém, não é o melhor.

— Por acaso, o teu consolo terá sido a esperança do Paraíso?
— Não, não.

— Provavelmente, o facto de haveres entesourado muitas boas-obras?
— Também não.

— Então, qual foi o teu maior consolo da última hora? — perguntei, entre confuso e suplicante, vendo que não conseguia adivinhar o seu pensamento.

— O que mais me confortou, no transe da morte, foi a assistência da poderosa e amável Mãe do Salvador.
Diz isto aos teus filhos: Que não se esqueçam de invocá-La frequentemente, durante a vida...

(Continua)





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Fonte: Igreja Online

# Visão de D. Bosco sobre o PARAÍSO - 1 e 2 (feed)

& Autocomentário:
IGREJA MILITANTE E IGREJA TRIUNFANTE


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