* BEM-VINDO AO BLOGUE "NOVÍSSIMOS DO HOMEM" ! *

Preparemo-nos bem para a hora da Morte e do Juízo,
a fim de escaparmos ao Inferno e ganharmos o Paraíso!


quarta-feira, 23 de junho de 2010

CONTRIÇÃO PERFEITA
* A Chave do Céu !




* * * * *



CONTRIÇÃO PERFEITA


A CHAVE PARA

ENTRAR NO CÉU



O que é a

Contrição Perfeita?




Contrição:

É a dor de alma pelo desgosto e rejeição dos pecados cometidos.
Deve acompanhá-la o bom propósito; isto é, uma firme vontade de emenda de vida para não voltar a pecar.

Para que a Contrição seja legítima, deve ser interna, ao nível da alma; isto é, não pode ser uma simples expressão feita com os lábios e sem reflexão, pois isto seria apenas mera contrição de boca.

Não é necessário manifestar exteriormente a Contrição interna por meio de suspiros, de lágrimas, etc.; pois tudo isto pode ser sinal de contrição, mas não é, porém, a sua essência.

A essência da contrição está na alma, na sincera vontade de afastar-se deveras do pecado, convertendo-se para Deus.

Além disso, a Contrição deve ser geral.
Isto significa que deve estender-se a todos os pecados cometidos, ou pelo menos, a todos os pecados mortais.
Finalmente, deve ser sobrenatural, e não meramente natural, pois esta nada aproveita.


Segue-se que a Contrição, como todo o bem espiritual, deve proceder de Deus e da Sua Graça; e com a Graça de Deus, desenvolver-se na alma.
Porém, não tenhamos receio; bastando que peçamos a Contrição de boa vontade e que nos arrependamos sincera e espiritualmente, pelo que Deus conceder-nos-á então as graças necessárias.

Se o motivo da Contrição se fundamentar na natureza ou somente na razão (por exemplo, nos danos temporais, na vergonha, na doença, etc.), é muito provável que a dor dos pecados seja simplesmente natural e sem mérito.

Todavia, se o motivo da Contrição é alguma Verdade da Fé (por exemplo: Deus, o Céu, o Purgatório, o Inferno, etc.), então a Contrição será legítima e sobrenatural.
A Contrição legítima e sobrenatural pode ser, por sua vez, de duas classes: perfeita e imperfeita.

E assim, chegámos ao tema principal da...




CONTRIÇÃO PERFEITA


Em poucas palavras, a Contrição Perfeita é a Contrição que procede do Amor a Deus; e a Contrição imperfeita, é a que procede do Temor de Deus.

É Contrição Perfeita quando procede de Amor perfeito a Deus.
E o nosso amor a Deus é perfeito quando O amamos porque Ele é, em Si mesmo, infinitamente Perfeito e Bom (amor de benevolência), e porque Ele nos mostrou o Seu Amor duma maneira tão admirável (amor de agradecimento).

E é um amor imperfeito a Deus o quando O amamos porque esperamos alguma coisa d'Ele (por algum motivo calculista ou interesseiro).
De tal modo que, com o amor imperfeito, pensamos sobretudo nos dons (a receber); e com o amor perfeito, pensamos sobretudo na Bondade do Dador.

Com o amor imperfeito, amamos mais os dons, e com o amor perfeito amamos mais o Dador, e isto não tanto pelos Seus dons, mas principalmente pelo Amor e Bondade que nos Seus dons se manifestam.


Do Amor nasce a Contrição.
Portanto, a Contrição será perfeita se nos arrependermos dos nossos pecados por amor perfeito de Deus, quer este seja de benevolência, quer seja de agradecimento.

Será Contrição imperfeita se nos arrependermos dos pecados apenas ou mormente pelo Temor de Deus, uma vez que pelo pecado perdemos a recompensa de Deus, o Céu, e merecemos o seu castigo, o Inferno ou o Purgatório.

Na Contrição imperfeita, fixamo-nos principalmente em nós e nas desgraças que, segundo a Fé nos ensina, nos acarretou o pecado.

Na Contrição perfeita, fixamo-nos sobretudo em Deus, na Sua Grandeza e Formosura, no Seu Amor e Bondade, vendo quanto o pecado O ofende, e que foi o pecado que Lhe causou tantos sofrimentos e dores para nos redimir.
Na Contrição perfeita, não queremos unicamente o nosso bem, senão também e sobretudo o Bem de Deus.


Com um exemplo envangélico, comprenderemos melhor tal realidade:

Quando São Pedro negou o Divino Salvador, foi para fora e “chorou amargamente”
(1 Lc 22, 62).
Por que é que chora S. Pedro?
É, porventura,
por pensar na vergonha que vai sentir diante dos outros Apóstolos?
Se assim fosse, a sua dor teria sido puramente natural e sem mérito.

É por que receia que o Seu Divino Mestre lhe tire, como merece, o cargo de Apóstolo Principal, expulsando-o do Seu Reino?
Essa seria uma boa contrição, embora somente imperfeita.

Mas não; Pedro arrepende-se e chora, antes de tudo, porque ofendeu o Seu amado Mestre, tão Bom, tão Santo, tão Digno de ser amado, e por ter sido tão ingrato ao Seu imenso Amor por ele.
S. Pedro teve, pois, uma
verdadeira e perfeita Contrição.





Agora diz-me:
Tens tu também, Cristão da minha alma, algum fundamento, algum motivo, parecido com o de S. Pedro,
para te arrependeres dos teus pecados por amor, por amor perfeito e agradecido?
Sim, certamente, pois os benefícios que Deus te tem feito são mais que os cabelos da tua cabeça, e considerando-os, podes dizer, em cada um deles, o que dizia S. João:
“Amemos a Deus, já que Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4, 19).

E como Deus nos amou?
“Com Amor eterno te amei disse Ele e me compadeci de ti e te atraí a Mim” (Jer 31, 3).

Sim, com Amor eterno Ele te amou.
Desde toda a Eternidade, desde quando ainda não havia nem um átomo de ti sobre a Terra, te olhou com aqueles Seus Olhos amorosos e que tudo penetram, e te preparou alma e corpo, Céu e Terra, com o amor com que uma mãe prepara todo o necessário para o filhinho que ainda não nasceu.

Ele deu-te a saúde e a vida, Ele deu-te e dá-te, em cada dia, todos os bens naturais; consideração esta que até aos pagãos pode fazê-los chegar ao conhecimento e Amor perfeito de Deus; quanto mais a ti, Cristão, que conheces outro género muito diferente de amor e de bondade, o Amor e Bondade sobrenaturais de Deus para contigo.


Porque Deus compadeceu-se de ti; e quando, com todo o género humano, estavas condenado pela culpa original, Deus enviou o Seu Unigénito Filho, e Ele se fez teu Salvador e te redimiu com o Seu preciosíssimo Sangue, morrendo na Cruz.

E em ti pensava com entranhável Amor, quando agonizava no Horto das Oliveiras, e quando derramava o Seu Sangue com os açoites e os espinhos, e quando subia, arrastando a pesada Cruz, pelo longo e áspero caminho do Calvário; e quando, cravado nela, Se desfez em Sangue, entre indizíveis tormentos.
Em ti pensava com entranhável Amor, como se tu foras o único homem da Terra.

Que tens a concluir, daqui?
“Amemos a Deus, já que Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4, 19).

E Deus te atraiu a Ele pelo Baptismo, Graça capital e primeira da tua vida, e pela Igreja, em cujo seio foste então admitido.
Quantos há que, só à força de trabalhos e canseiras, conseguem encontrar a verdadeira Fé, e a ti ta ofereceu Deus desde o berço, por puro Amor.

Atraiu-te a Ele e atrai-te sempre pelos Sacramentos e pelas inumeráveis graças interiores e exteriores com que te enche todos os dias, pois, em verdade, estás a nadar, como num imenso mar, na Bondade e Amor de Deus.
E este Amor quer ainda coroar-te, colocando-te consigo no Céu e fazendo-te eternamente feliz.


O que Lhe deves, por tanto Amor?
Não é verdade que deves corresponder-Lhe (em tudo aquilo que estiver ao teu alcance)?
Amemos também a Deus, já que Ele nos amou primeiro.

Pois, vamos a contas, e diz-me:
Como tens pago a Deus, tão Bom e Amoroso, o Seu Amor e Bondade para contigo?
Dir-me-ás, sem dúvida, que com ingratidão e pecados.
E pesa-te essa ingratidão?
Sem dúvida que sim, e queres ressarcir a tua pesada ingratidão, amando quanto possas tão grande e amoroso Benfeitor.

Pois, olha, se assim é, já tens Contrição perfeita, Contrição de amor a Deus.
Para facilitar, chama-se a esta Contrição de amor de Deus, Contrição de Amor
, ou de Caridade.

Na mesma Contrição de Caridade, há uma mais elevada, que é quando alguém ama a Deus porque Ele é, em Si mesmo, infinitamente Formoso, Glorioso, Perfeito e Digno de Amor, prescindindo do Seu Amor e Misericórdia para connosco.


Há estrelas e com esta comparação julgo que entenderás melhor que, por estarem muito longe de nós, não as podemos distinguir, e contudo, são tão grandes e formosas como o Sol, que tão diligentemente nos dá o calor e a vida.

Pois também, ainda quando o homem não tinha visto nem gozado nunca do Amor de Deus, Eterna Estrela do Céu, ainda quando Deus não tinha criado o Mundo, nem criatura alguma, mesmo assim, Ele era igualmente Grande, Formoso, Glorioso e Digno de todo o Amor, porque Ele é, em Si mesmo e por Si mesmo, o Bem mais Excelente, mais Perfeito e Digno de pleno Amor.

Isso mesmo, e não outra coisa, quer dizer essa expressão que, talvez várias vezes, terás encontrado nos devocionários e nas fórmulas do Acto de Contrição, e que provavelmente ter-te-á parecido um tanto obscura.

Detém-te, pois, agora, e contempla o imenso Amor de Deus.
Contempla-o, sobretudo, nos amargos sofrimentos do Salvador, a cuja luz O compreenderás tão facilmente, quão facilmente Ele te arrebatará o coração.




* * * * *


Autor:
J. Driesch,
"Contrição Perfeita - a Chave do Céu!"


Adaptação:
NOVÍSSIMOS DO HOMEM

domingo, 13 de junho de 2010

Visões de S. João Bosco - III
* O INFERNO - 3






+ + + + +



Visão de Dom Bosco


sobre o


INFERNO ETERNO


= 3.ª Parte =



* * *


Recordando a sorte dos ex-companheiros justos,
os réprobos vêem-se obrigados a confessar:

"Nos insensati! Vitam illorum aestimabamus insaniam
et finem illorum sine honore!"
[Nós, insensatos, considerávamos uma loucura a vida
que eles levavam e o seu fim sem gozo!]

"Ecce quomodo computati sunt inter filios Dei
et inter sanctos sors illorum est.
Ergo erravimus a via veritatis!"
[Eles foram contados entre os filhos de Deus
e entre os Santos tiveram a mesma sorte.
Nós negámos o caminho da Verdade!]

Por isso eles gritam:

"Lasati sumus in via iniquitatis et perditionis.
Erravimus per vias difficiles,
viam autem Domini ignoravimus!"
[Andámos em vias de iniquidade e perdição!
Vagueámos por caminhos perigosos,
ignorando o caminho do Senhor!]

"Quid nobis profuit superbia?"
[De que nos serviu o nosso orgulho?]

"Transierunt omnia illa tanquam umbra!"
[Tudo passou como uma sombra!]


Estes são os lúgubres cantos que ali ressoarão
por toda a Eternidade!
Mas inúteis gritos, inúteis esforços, inútil pranto!

"Omnis dolor irruet super eos!"
[Toda a dor recairá sobre eles!]


«Aqui não há tempo, apenas eternidade!»



* * *


Enquanto contemplava, cheio de horror, o estado de muitos dos meus jovens, assaltou-me imprevistamente uma ideia:

- Mas como é possível que os que se encontram aqui estejam todos condenados?!
Estes jovens, ainda ontem à tarde, estavam vivos, no Oratório!
Mas o Guia explicou-me:

- Os que aqui vês, ainda vivem, mas estão mortos para a Graça de Deus, e se morrerem agora, ou continuarem procedendo como no presente, condenar-se-ão!
Mas não percamos tempo; sigamos adiante.

E afastou-me daquele lugar, por um corredor que baixava a um profundo subterrâneo, conduzindo-me a outro, em cuja entrada estava escrito:
"Vermis eorum non moritur, et ignis non extinguitur... Dabit Dominus omnipotens ignem et vermes in carnes eorum, ut urantur et sentiant usque in sempiternum!" (Judite 16, 21)
[O seu verme não morrerá e o fogo não se extinguirá... O Senhor omnipotente dará fogo e vermes às suas carnes, para que ardam e sofram eternamente!].

Ali, contemplava-se o espectáculo dos atrozes remorsos daqueles que foram educados nas nossas casas!
A recordação de todos e de cada um dos pecados não perdoados e a sua justa condenação!
A de terem tido mil remédios, até mesmo extraordinários, para se converterem ao Senhor, para serem perseverantes no bem, para ganharem o Paraíso!

A recordação de tantas graças prometidas, oferecidas e dadas por Maria Santíssima, e não correspondidas!
Terem podido salvar-se, com tão pouco esforço, e perderem-se irremissivelmente para sempre!
Lembrarem-se de tantos bons propósitos feitos e não compridos!
Ah, bem diz o provérbio que o Inferno está cheio de boas intenções não realizadas!

Ali, voltei a ver todos os jovens do Oratório, os mesmos que tinha visto pouco antes naquele forno!
(Alguns dos quais estão-me ouvindo neste momento; outros já estiveram connosco, e outros eu não conhecia).
Aproximei-me, e observei que todos estavam cheios de vermes e animais asquerosos, que lhes roíam e consumiam o coração, os olhos, as mãos, as pernas, os braços, de maneira tão miserável que nem sei exprimir com palavras!
Estavam imóveis, expostos a toda a espécie de moléstias, e não podiam defender-se de modo algum!

Aproximei-me ainda mais, para que me vissem; esperando poder falar-lhes, para que me dissessem algo, mas nenhum falava nem me olhava.
Perguntei então ao Guia a causa disso, e foi-me respondido que no outro mundo (do Além) os condenados não têm liberdade.
Cada um sofre ali todo o castigo que Deus lhe impôs, sem que possa haver mutação de espécie
alguma.


- Agora é preciso - acrescentou o Guia - que também tu vás ao meio daquela região de fogo, que já viste.
- Não, não! - respondi aterrorizado.
Para ir ao Inferno é preciso ser antes julgado, e eu ainda não o fui. Não quero, pois, ir ao Inferno!

- Diz-me - observou o Amigo -, o que te parece melhor: Ires ao Inferno e livrares os teus jovens, ou ficares de fora e deixá-los no meio de tantos tormentos?

Atordoado, diante desta proposta, respondi:
- Oh, quero muito ao meus caros jovens, quero que todos se salvem!
Mas não poderíamos fazer de tal forma, que nem eles, nem eu, entremos aí?
- Ainda estás a tempo - respondeu-me o Guia
-, e também eles estão, desde que faças tudo o que podes.

O meu coração dilatou-se, e eu disse para mim mesmo:
- Pouco me importa sofrer, desde que possa livrar dos tormentos estes meus queridos filhos.
- Vem, pois, lá dentro - prosseguiu o Amigo -, e vê a Bondade e a Omnipotência de Deus, que amorosamente emprega mil meios para chamar à penitência os teus jovens, a fim de salvá-los da morte eterna!

E tomou-me pela mão, para introduzir-me na caverna.
Mal pus os pés no umbral, encontrei-me inesperadamente transportado para uma enorme sala com portas de cristal.
Sobre estas, a distâncias regulares, pendiam largos véus, os quais cobriam outros tantos departamentos que comunicavam com a caverna.
O Guia indicou-me um dos véus, sobre o qual estava escrito "Sexto Mandamento", e exclamou:
- A transgressão deste Mandamento é a causa da ruína eterna de muitos jovens.

- Mas eles não se confessaram?
- Sim, confessaram-se, mas os pecados, contra a bela virtude, confessaram-nos mal, ou calaram-nos por completo.
Por exemplo, uma alma que havia cometido quatro ou cinco desses pecados, confessou somente dois ou três.
Há quem tenha cometido um só pecado impuro na meninice e sempre teve vergonha de confessá-lo, ou confessou-o mal, ou não disse tudo.
Outros não tiveram arrependimento, nem propósito de emenda.

Mais ainda: alguns, em vez de examinarem a sua consciência, estudavam o modo de enganar o confessor.
E o que morre com tal resolução está consciente de pertencer ao número de condenados, e assim será por toda a eternidade.
Só os que, arrependidos de todo o coração, morrem na esperança da eterna salvação, esses serão eternamente felizes.
E agora queres ver por que a Misericórdia de Deus te conduziu até aqui?


Levantei o véu e vi um grupo de meninos do Oratório, todos meus conhecidos, condenados por esse pecado.
Entre eles, havia alguns que, na aparência, têm boa conduta.
- Pelo menos agora, deixar-me-ás escrever os nomes desses meninos, para poder adverti-los em particular?
- Não é preciso
- respondeu-me.

- Que devo então dizer a eles?
- Prega por toda a parte contra a impureza.
Basta avisá-los em geral, e não te esqueças de que, ainda que os avises em particular, prometerão cumprir, mas nem sempre com firmeza.
Para conseguir isso, requer-se a Graça de Deus, a qual, se bem pedida, jamais faltará aos teus jovens.
O bom Deus manifesta especialmente o Seu poder em compadecer-Se e perdoar.
Oração, pois, e sacrifício da tua parte.
Quanto aos jovens, que ouçam as tuas exortações, que interroguem as suas consciências, e ela sugerir-lhes-á o que devem fazer.


Estivemos então a conversar, cerca de meia hora, sobre as condições necessárias para fazer uma boa Confissão.
Depois, o Guia repetiu várias vezes, erguendo a voz:
- "Avertere! Avertere!"...
- O que significa essa exclamação?
- Mudar de vida, mudar de vida!...

Muito impressionado por aquela revelação, baixei a cabeça, e estava ao ponto de retirar-me, quando o Guia me chamou, dizendo:
- Ainda não viste tudo.
E, dirigindo-se a outra parte, levantou outro véu, sobre o qual estava escrito:
"Qui volunt divites fieri, incident in tentationem et laqueum diaboli"
[Os que querem ficar ricos, caem na tentação e no laço do Demónio].

Li e exclamei:
- Isso não diz respeito aos meus jovens, porque são pobres como eu; não somos ricos nem pretendemos sê-lo. Nem sequer o imaginamos...
Removido o véu, apareceram no fundo alguns meninos, todos meus conhecidos, que sofriam como os anteriores, e mostrando-os, disse-me:
- Acho que é também aos teus meninos que essa inscrição diz respeito.
- Explica-me, pois, o porquê da palavra "divites" [ricos].

- Por exemplo, alguns dos teus jovens têm o coração de tal maneira apegado a algum objecto material, que esse afecto afasta-os do Amor de Deus, e por isso faltam à caridade, à piedade, à mansidão.
Não somente com o uso das riquezas se perverte o coração, mas também com o desejo delas, sobretudo se esse desejo ofende a justiça.
Os teus jovens são pobres, mas repara que a gula e o ócio são péssimos conselheiros.
Há alguns que, em seus lugares de origem, tornaram-se culpados de furtos significativos, e podendo, não pensam em restituir.
Há quem estude a maneira de abrir com chaves falsas a despensa; quem procura entrar no escritório do prefeito, ou do ecónomo da casa; quem vai remexer as malas dos companheiros para roubar-lhes comestíveis, dinheiro ou livros para seu uso...

De uns e de outros, ele disse-me os nomes, e prosseguiu:
- Alguns encontram-se aqui por terem-se apropriado de objectos de vestuário, de roupa branca, de cobertores e colchas, que pertenciam à rouparia do Oratório, para enviá-los depois às suas casas.
Alguns, por terem causado voluntariamente danos graves, não os tendo reparado.
Outros, por não terem devolvido coisas que lhes haviam sido emprestadas; e outros, por terem retido somas de dinheiro, que lhes haviam sido confiadas para que as entregassem ao superior.

E o meu companheiro concluiu, dizendo-me:
- Já que tais pessoas te foram indicadas, avisa-as; diz-lhes que rejeitem todos os desejos inúteis e nocivos, que sejam obedientes à Lei de Deus e zelosos da sua honra.
Se não forem assim, a cobiça arrastá-los-á a excessos piores, que os submergirão
nas dores, na morte e na perdição.

Eu não conseguia entender como, para certas coisas consideradas insignificantes pelos nossos jovens, haviam sido preparados castigos tão horríveis.
Mas o Amigo cortou as minhas reflexões, dizendo:
- Recorda o que te foi dito diante do espectáculo dos cachos estragados da videira...


E o Guia levantou outro véu, que ocultava muitos dos nossos jovens, os quais logo reconheci, pois estão presentemente no Oratório.
Sob o véu, estava escrito:
"Radix omnium malorum! [Raiz de todos os males!]".

E logo perguntou-me:
- Sabes o que significa isso? Sabes qual é o pecado indicado por essa epígrafe?
- Parece-me que só pode ser o pecado do orgulho.
- Não é - respondeu-me.

- Mas sempre ouvi dizer que o orgulho é a raiz de todo o pecado.
- Sim, genericamente é; mas em concreto, sabes qual foi o delito que fez cair Adão e Eva no primeiro pecado, em consequência
do qual foram expulsos do Paraíso terrestre?
- A desobediência...
- Precisamente: A
desobediência é a raiz de todo o mal!

- E o que devo dizer aos meus jovens, sobre esse ponto?
- Presta atenção:
Os jovens, que tu vês aqui, são os desobedientes, que vão preparando para si próprios
tão lamentável fim.
Esses tais e outros, que tu crês que à noite vão descansar, ao passearem no pátio, descem (à rua), não fazendo caso das proibições, e vão a lugares perigosos; e trepam aos andaimes das obras em construção, pondo em risco até a própria vida.
Alguns, apesar das prescrições do regulamento, na Igreja não estão como devem, e em vez de rezarem, pensam em coisas completamente diversas, constroem na sua mente castelos no ar.
Outros, perturbam os companheiros.

Há os que, procurando atitudes cómodas, dormem durante as sagradas funções.
Outros, tu crês que vão à Igreja, e no entanto não vão.
Ai de quem descuida a oração!
Quem não reza, condena-se!
Alguns estão aqui porque, em vez de cantarem os cânticos sagrados, ou o Ofício da Santíssima Virgem, lêem livros que tratam de tudo, menos de religião; e outros - o que é muito degradante - chegam a ler
livros proibidos.

E continuou enumerando várias outras transgressões, que são a causa de graves desordens.
Quando terminou, comovido, olhei o Guia na face.
Ele também me fitou, e eu perguntei-lhe:
- Todas essas coisas, poderei contá-las aos meus jovens?
- Sim, podes dizer, a todos eles, aquilo de que te recordares.

- E que conselhos poderei dar-lhes, para que não lhes sucedam tão grandes desgraças?
- Insistirás, demonstrando como a obediência a Deus, à Igreja, aos pais e aos superiores, mesmo nas menores coisas, salvá-los-á.

- E o que mais?
- Dirás aos teus jovens que evitem todo o ócio, porque essa foi a causa do pecado do rei David.
Diz-lhes que estejam sempre ocupados, porque assim o Demónio não terá tempo de assaltá-los.

Inclinei a cabeça e prometi.
Não mais suportando aquele terror infernal, disse ao amigo Guia:
- Agradeço-te a caridade que tiveste comigo, mas rogo-te que me faças sair daqui.
- Vem comigo! - disse-me então.
E encorajando-me, tomou-me pela mão e sustentou-me, porque eu sentia-me extenuado e sem forças.
Uma vez saídos da sala, atravessámos rapidamente o horrível pátio e o largo corredor da entrada.

Antes de atravessar o umbral da última porta de bronze, mais uma vez voltou-se para mim, e exortou-me:
- Agora, que viste os tormentos dos outros, é preciso que tu também experimentes um pouco do Inferno.
- Não, não!
- gritei horrorizado.
Ele insistia, e eu recusava sempre.

- Não temas! - dizia-me. É só para experimentares. Toca nessa muralha!
Eu não tinha coragem e queria afastar-me, mas ele segurou-me, dizendo:
- No entanto, é necessário que experimentes.

E agarrando-me resolutamente pelo braço, levou-me para junto da muralha, dizendo:
- Toca-a rapidamente, uma só vez, para que possas dizer que visitaste as muralhas dos suplícios eternos, e que as tocaste; e também para que compreendas como será a última muralha, se a primeira já é tão horrível!
Vês esta muralha?

Observei-a com mais atenção: Era de colossal espessura!
E o Guia prosseguiu:
-
Esta é a milésima parede, antes de chegar ao verdadeiro fogo do Inferno. Mil muralhas rodeiam o Inferno!
Cada uma da muralhas tem mil medidas de espessura, e essa é a distância entre cada uma delas. Cada medida é de mil milhas.
Esta muralha dista, pois, um milhão de milhas do verdadeiro fogo do Inferno, e portanto, é um pequeníssimo início do mesmo Inferno!

Dito isto, e vendo que eu me encolhia para não tocar na muralha, o Guia agarrou a minha mão, abriu-a com força e fez com que eu a encostasse na pedra daquela milésima muralha!
Naquele instante, senti uma queimadura tão intensa e dolorosa que, saltando para trás e dando um fortíssimo grito, acordei!...



* * *


Encontrei-me sentado na cama, e sentindo que a mão ardia, esfregava-a na outra mão, tentando suavizar aquela misteriosa dor.
Quando amanheceu, observei que a mão estava realmente inchada.
E a impressão imaginária daquele fogo foi tão forte que, pouco tempo depois, a pele da palma da mão se desprendeu e mudou...



Caros amigos, tende em consideração que não vos contei estas coisas com todo o seu horror, tal como as vi, nem com a impressão que me fizeram, para não vos assustar demais.
Sabemos que o Senhor só nos falou do Inferno em sentido figurado, porque, ainda que no-lo houvesse descrito tal como é, não o teríamos entendido.
Nenhum mortal pode compreender essas coisas.
Mas o Senhor conhece-as e pode dizê-las a quem Ele quiser.

Durante várias noites sucessivas, tive tal perturbação que não pude dormir, por causa do medo.
Contei-vos brevemente o que vi, em sonhos muito longos; e deles não vos fiz senão um breve resumo.
Darei mais tarde instruções sobre o
respeito humano, sobre
o sexto e o sétimo Mandamentos, e sobre o orgulho.

Não farei mais do que explicar esses sonhos, porque eles estão em total conformidade com Sagrada Escritura; e ainda mais, não são senão um comentário do que se lê sobre o tema na mesma Escritura Sagrada.
Nas últimas noites, já vos contei algumas coisas; mas quando puder voltar ao assunto, contar-vos-ei as restantes, com as devidas explicações.


+ + + + +



Fonte:
Igreja Online

# - "1.ª e 2.ª Parte" destas visões infernais:
>> A seguir, mais abaixo...

A propósito, leia ainda este pertinente texto
de Santo Afonso Maria de Ligório:
+
A GRANDE ILUSÃO NA "MISERICÓRDIA DIVINA",
SEM ARREPENDIMENTO NEM CONVERSÃO PESSOAL



Adaptação:
Nova Evangelização
Católica

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Visões de S. João Bosco - III
* O INFERNO - 2


+ Só a infinita Misericórdia de Deus, aliada à nossa sincera conversão, nos pode livrar do Inferno eterno! + Ó meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do Inferno!...


+ + + + +



Visão de Dom Bosco


Sobre o INFERNO


= 2.ª Parte =



* * *



Perguntei ao Guia:

- Onde é que nos encontramos?
O que é isso?!

- Lê naquela porta, e pela inscrição saberás
onde estamos
- respondeu...

Olhei e vi escrito na porta:


" UBI NON EST REDEMPTIO ! "

[Onde não há redenção!]


E logo percebi que chegámos, finalmente, às...

PORTAS DO INFERNO !...


* * *

Então, o Guia levou-me a fazer o contorno das muralhas daquela horrível cidade.
De espaço a espaço, a uma distância regular, via-se uma porta de bronze, como a primeira, também no ponto final duma espantosa vertente, e todas as portas tinham uma inscrição latina, distinta das anteriores...



"Discedite, maledicti, in ignem aeternum, qui paratus est diabolo et angelis eius... Omnis arbor quae non facit fructum bonum excidetur et in ignem mittetur!"

[Afastai-vos, malditos, ide para o fogo eterno, que está preparado para o Diabo e seus anjos... Toda a árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo!]...


+ + +


Peguei num lápis para copiar as inscrições; mas o Guia disse-me:

- O que estás a fazer?
Não é preciso, pois estão todas na Sagrada Escritura.
Algumas delas até mandaste colocá-las nas portas
[do Oratório].

Diante de tão horrível espectáculo, eu teria desejado voltar para trás, regressando ao Oratório, e já havia dado alguns passos, mas o meu Guia nem se moveu.
Percorremos um imenso e profundíssimo barranco, e novamente encontramo-nos diante da primeira porta, aos pés da vertente por onde havíamos descido.
De repente, o Guia recuou e, com o rosto entristecido e desfeito, fez sinal para que me afastasse, dizendo:

- Observa!
- ordenou ele.

Assustado, voltei os olhos para trás, e vi a uma grande distância, naquele inclinadíssimo caminho, alguém que caía precipitadamente. Conforme se ia aproximando, procurava fixar-lhe o rosto, e finalmente reconheci nele um dos meus jovens!
Os seus cabelos, em parte desordenados e eriçados, em parte lançados para trás pelo efeito do vento; e os seus braços, estendidos para adiante, em atitude de quem nada para escapar do naufrágio.
Ele queria parar, mas não podia; tropeçava nas pedras salientes do caminho e elas mesmas serviam para dar-lhe mais impulso na queda!

- Corramos, vamos pará-lo e ajudá-lo! - dizia eu, enquanto estendia para ele as mãos.
- Não, deixa! - dizia-me o Guia.

- Por que não posso pará-lo?
- Não sabes como é terrível o Juízo de Deus?
Porventura, crês que és capaz de parar alguém que foge da cólera acesa do Senhor?

Entrementes, o jovem, voltando a cabeça para trás e olhando com olhos esbugalhados, a fim de ver se a ira de Deus o perseguia, lançava-se para o abismo, na direcção da enorme porta de bronze, como se na sua fuga não pudesse encontrar melhor refúgio!

- Porquê - perguntei eu -
aquele jovem olha para trás com tanto espanto?
- Porque a ira de Deus atravessa as portas do Inferno e vai atormentar até ao meio do fogo.

E, perante aquela terrível queda, logo abriu-se, com grande estrondo, a porta do Inferno!
Por trás dela, abriram-se ao mesmo tempo, com um estrondo ensurdecedor, dez, cem, mil portas mais, empurradas pelo jovem, o qual era levado por um torvelinho invisível, irresistível, velocíssimo!
Assim, todas as portas infernais, umas defronte das outras, embora a grande distância, ficavam num instante abertas!


Vi no fundo do túnel, muitíssimo distante, como que a boca dum enorme forno, e enquanto o jovem se precipitava naquela voragem, soltaram-se grandes bolas de fogo!
E todas as portas logo voltaram a fechar-se, com a mesma rapidez com que se tinham aberto.
Peguei então na minha caderneta, para escrever o nome daquele desgraçado, mas o Guia, segurando-me pelo braço, intimou-me:

- Espera, e observa novamente!

Olhei, e então presenciei uma nova e terrível cena:
Vi que, por aquela mesma vertente, precipitavam-se outros três jovens do nosso Oratório, os quais, à semelhança de três pedras, rolavam velozmente, um após o outro!
Eles tinham os braços abertos e urravam de terror!
E chegaram assim ao fundo do abismo, de encontro à primeira porta.

No mesmo instante, reconheci esses três jovens.
De igual modo, a grande porta logo se abriu e, por trás dela, as outras mil.
Sendo os jovens projectados nesse horrível turbilhão, ouviu-se um enorme rumor infernal, que se afastava rapidamente, logo desaparecendo e cerrando-se as portas!

E ainda vários outros rapazes, a pouco e pouco, foram caindo atrás desses!
Vi também cair um pobrezinho, empurrado por um pérfido companheiro!
Uns caíam sós, e outros acompanhados; uns seguros pelo braço, e outros soltos, ainda que bastante juntos uns dos outros.
E todos levavam escrito na fronte o seu pecado!

Eu chamava-os com grande aflição, enquanto caíam, mas os jovens não me ouviam.
Retumbavam as portas infernais, ao abrirem-se, e fechavam-se logo depois, seguindo-se um silêncio sepulcral.

- Eis as três causas principais de tantas condenações: os maus livros, os maus companheiros e os hábitos perversos!
- exclamou o meu Guia.

Os tais
laços, que antes tinha visto, eram os vícios e pecados que arrastava os jovens para o precipício infernal!
Ao ver caírem tantos jovens, eu comentei, com a voz desolada:

- Mas então será inútil trabalharmos nos nossos colégios, se são tantos os rapazes que aguardam tão horrível fim!?
Não haverá nenhum outro remédio, para impedir a perda de tantas almas?!

Respondeu-me o Guia:
-
Esse é o estado actual em que eles se encontram, pelo que se morressem agora, para cá viriam, inevitavelmente!
- Nesse caso, deixa-me anotar os seus nomes, para que eu possa avisá-los e pô-los no caminho do Paraíso.

- E crês que algum deles, uma vez avisado, corrigir-se-ia?
No primeiro momento, o aviso impressioná-lo-ia; depois, desprezá-lo-ia, pensando: "Um sonho!", e assim ficaria ainda pior do que antes!
Outros, sabendo-se descobertos, frequentariam os Sacramentos, mas sem boa vontade e sem mérito, porque não o fariam dignamente!
Outros ainda, confessar-se-iam, mas só por temor momentâneo do Inferno, sem arrancar do seu coração o afecto ao pecado!

- Não há, então, remédio para esses desgraçados?
Mostra-me um remédio eficaz, que possa salvá-los.
- Eles têm Superiores: Que lhes obedeçam!
Têm um Regulamento: Que o observem zelosamente!
E têm os Sacramentos: Que os frequentem dignamente!


Nesse meio tempo, precipitou-se outro bando de jovens, e as portas do Inferno ficaram abertas por uns instantes...

- Entra tu também!
- aconselhou-me o Guia.
Mas logo hesitei, horrorizado!
Estava com a ideia de que devia voltar já ao Oratório, para avisar os jovens e segurá-los, para que nenhum deles se perdesse.

Mas o Guia insistiu:
- Vem, e aprenderás muitas coisas!
Diz-me antes, porém: queres ir só, ou acompanhado?

Ele disse isso para que eu reconhecesse a insuficiência das minhas forças, e ao mesmo tempo a necessidade da sua benévola assistência.

Pelo que respondi:
- Só?! A esse lugar de horrores?! Sem ser ajudado pela tua bondade?
E quem é que poderia ensinar-me o caminho de regresso?

Mas, no mesmo instante, senti-me cheio de coragem, pensando comigo mesmo:
Só pode ir para o Inferno quem já foi julgado, e eu ainda não o fui.
Em consequência disso, exclamei resoluto:
- Entremos, pois!

Adentrámos naquele estreito e horrível corredor.
Corremos nele com a velocidade do relâmpago.
Em cada uma das portas interiores, brilhava, com tétrica luz, uma inscrição ameaçadora.
Quando acabámos de percorrê-lo, fomos parar num vasto e tenebroso pátio, em cujo fundo via-se uma grande e horrível porta, como jamais vi igual, e nela estavam escritas estas palavras:

"Ibunt impii in ignem aeternum!"
[Os ímpios irão para o fogo eterno!].


Todas as paredes em volta estavam cheias de inscrições.
Pedi permissão ao Guia para lê-las, e ele respondeu-me:
- À tua vontade.
Então, examinei tudo...

Num lugar, vi escrito:
"Dabo ignem in carnes eorum ut comburantur in sempiternum!"
[Darei fogo às suas carnes para que se queimem eternamente!].
"Cruciabuntur die ac nocte in saecula saeculorum!"
[Serão atormentados dia e noite, pelos séculos dos séculos!].

Noutro lugar:
"Hic universitas malorum per omnia saecula saeculorum!"
[Aqui está o conjunto dos males, pelos séculos dos séculos!].

E noutro:
"Nullus est hic ordo, sed horror sempiternus inhabitat!"
[Aqui não há ordem, mas habita horror eterno!].
"Fumus tormentorum suorum in aeternum ascendit!"
[Eternamente, estará subindo o fumo dos seus tormentos!].

E ainda noutro:
"Non est pax impiis!"
[Não há paz para os ímpios!].
"Clamor et stridor dentium!"
[Clamor e ranger de dentes!]...

Enquanto eu estava lendo as inscrições em volta, o Guia, que havia ficado no meio do pátio, aproximou-se e disse-me:

- A partir daqui, ninguém mais poderá ter um companheiro que o sustente, um amigo que o conforte, um coração que o ame, um olhar compassivo, uma palavra benévola; passámos a linha...
Queres ver, ou experimentar?
- Só quero ver -
respondi.
- Vem, então! - acrescentou o Guia, tomando-me pela mão.

Levou-me assim diante daquele portal, e abriu-o.
Comunicava com um espaço, em cujo fundo havia uma grande cova fechada, com uma ampla janela dum só cristal, que ia desde o piso até ao tecto, e através do qual se podia divisar o interior...
Mas logo dei um passo para trás, retrocedendo até ao umbral da porta, tomado por indescritível terror!

Apareceu diante de meus olhos uma espécie de imensa caverna, que se perdia como nas entranhas duma montanha, cheia de fogo, não como o vemos na Terra, com chamas vivas, mas um fogo tal e tão ardente que tudo o que havia em torno estava torrado e embranquecido pelo excesso de calor!
Paredes, tectos, chão, ferro, pedra, lenha, carvão, tudo estava branco e incandescente!
Com certeza, o fogo era de milhares e milhares de graus de calor; mas nada se reduzia a cinzas, nada se consumia!
Não sou capaz de descrever aquela horrível caverna, em toda a sua espantosa realidade...

"Praeparata est enim ab hero Thopheth, a rege praeparata, profunda et dilatata. Nutrimentum eius, ignis et ligna multa: flatus Domini sicut torrens sulphuris succendens eam"
(Isaías 30, 33).
[Desde muito tempo, foi Thopheth preparada pelo seu dono, foi preparada pelo rei, profunda e larga. O seu alimento é fogo e muita lenha; o sopro do Senhor, como uma torrente de enxofre, mantém-na acesa].


Enquanto eu olhava tudo aquilo, estarrecido, vejo inesperadamente cair, com fúria incoercível, um jovem, o qual lançando um grito lancinante, como o duma pessoa que estivesse ao ponto de cair num lago de bronze derretido, precipita-se no meio do fogo, tornando-se incandescente como toda a caverna, e fica imóvel, ressoando por uns instantes o eco da sua voz agoniada!
Cheio de horror, fixei os olhos no jovem, e pareceu-me ser um do Oratório, um dos meus filhos!

- Mas, não é este um dos meus rapazes?! Não é fulano de tal? - perguntei ao Guia.
- Sim, é ele mesmo - respondeu-me.

- E por que é que ele não muda de posição? Como é que está assim incandescente e não se consome? - perguntei-lhe.
-
Preferiste ver, por isso agora não me fales. Olha e verás...

"Omnis enim igne salietur et omnis victima sale salietur!"
(S. Marcos 14, 15)

[Será salgado com fogo e toda a vítima se condimentará com sal!].

Mal havia voltado os olhos, quando outro jovem, com um furor desesperado e a grande velocidade, corre e se precipita na mesma caverna!
Também ele era do Oratório.
Mal caiu, já não se moveu mais, e também ele havia lançado um grito lancinante, e a sua voz havia-se confundido com o eco do grito daquele que caíra antes!

Chegaram depois outros, igualmente precipitados; e o seu número aumentava cada vez mais, todos lançando o mesmo grito e ficando imóveis e incandescentes, como os demais que os tinham precedido!
Observei também que o primeiro tinha ficado com a mão levantada com o pé também voltado para cima; e o segundo havia ficado como que dobrado para baixo.
Uns tinham os pés levantados; outros, a cara contra o solo; outros, estavam como que suspensos, sustentando-se com um só pé e com uma só mão!

Havia também os sentados ou estendidos, apoiados de lado, de pé ou de joelhos, com as mãos entre os cabelos.
Havia, por fim, um grande número de jovens como estátuas, em posições cada qual a mais dolorosa!
E vieram ainda muitos mais para aquela fornalha!
Jovens, que em parte eu conhecia e em parte eram desconhecidos.

Lembrei-me então do que está escrito na Bíblia:
"Como se cair pela primeira vez no Inferno, assim se ficará eternamente"...
(Lignum, in quocumque loco ceciderit, ibi erit)
[Onde cair a árvore, aí mesmo ficará]...

Aumentava cada vez mais o meu espanto, e por isso perguntei ao Guia:

- Mas esses, que correm com tanta precipitação, não sabem que vêm parar aqui?
- Oh, sim! Eles sabem que vão para o fogo!
Foram avisados mil vezes, mas correm voluntariamente por causa do pecado, que não detestam e não querem abandonar, porque desprezaram e rechaçaram a Misericórdia de Deus, que incessantemente chamava-os à penitência.
Por isso, a Justiça Divina, de tal modo provocada, empurra-os, insta-os e persegue-os, pelo que não podem parar enquanto não chegam a este lugar!

- Qual não deve ser o desespero desses desgraçados, sem a menor esperança de sairem daqui! - exclamei.
- Queres conhecer as inquietações e os furores das almas deles? Aproxima-te um pouco mais -
respondeu o Guia.

Dei alguns passos para a janela, e vi que muitos desses miseráveis se golpeavam e feriam uns aos outros, mordendo-se como cães raivosos!
Outros arranhavam-se no rosto, laceravam-se nas mãos, despedaçavam a própria carne e atiravam-na fora com desprezo!
De repente, o tecto da caverna tornou-se transparente, como de cristal, e através dele via-se um pedaço do Céu e as radiantes figuras dos seus companheiros, salvos para sempre.
Os condenados bramiam com feroz inveja, porque os justos haviam sido tratados por eles, tantas vezes, como objectos de troça e desprezo.

"Peccator videbit et irascetur; dentibus suis fremet et tabescet"
[O pecador verá e odiar-se-á, e os seus dentes rangerão].


- Diz-me: Por que é que não se ouve nenhuma voz?
- perguntei ao meu Guia.
- Aproxima-te ainda mais - aconselhou ele...

Aproximei-me do cristal da janela, e ouvi que uns gemiam e rugiam, contorcendo-se, e outros blasfemavam e imprecavam contra os Santos!
Tudo aquilo era um caos de vozes e gritos altos e confusos, pelo que perguntei ao meu companheiro:

- O que dizem eles? Por que estão gritando?
- Recordando a sorte dos seus companheiros bons, vêem-se obrigados a confessar:

"Nos insensati! Vitam illorum aestimabamus insaniam et finem illorum sine honoré!"
[Nós, insensatos, considerávamos uma loucura a vida que eles levavam, e o seu fim como sem honra!].


"Ecce quomodo computati sunt inter filios Dei et inter sanctos sors illorum est. Ergo erravimus a via veritatis!"
[Eis que eles foram contados no número dos filhos de Deus, e a sua sorte juntamente com a dos Santos. Nós afastamo-nos, pois, do caminho da verdade!].

E por isso eles vociferam:

"Lasati sumus in via iniquitatis et perditionis. Erravimus per vias difficiles, viam autem Domini ignoravimus!"

[Corremos pelo caminho da iniquidade e da perdição! Perdemo-nos por caminhos difíceis e não conhecemos o caminho do Senhor!].

"Quid nobis profuit superbia?"
[De que nos serviu o nosso orgulho?]
"Transierunt omnia illa tanquam umbra!"
[Tudo passou como uma sombra!].

Estes são os lúgubres gemidos que ali ressoarão por toda a eternidade.
Mas inúteis gritos, inúteis esforços, inútil pranto!

"Omnis dolor irruet super eos!"
[Toda a dor cairá sobre eles!].

Aqui já não há tempo, só há eternidade!...


(Continua)




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Fonte: Igreja Online


Atenção ao 'Tema relacionado':
"Quem não acredita na Realidade
do Inferno e do Diabo, não é Cristão"

Adaptação:
Nova Evangelização
Católica